quinta-feira, 14 de março de 2013

A reforma

Posted by Hijikata Toshizou on 07:05 with No comments


Os antecedentes da Reforma protestante, que quebraria a hegemonia da Igreja Católica, encontravam-se, no século XIV, presentes no teólogo, professor da Universidade de Oxford e primeiro tradutor da Bíblia para o inglês John Wyklif. Ele se pôs contra o papado e pregou a necessidade da leitura direta da Bíblia e a separação entre Igreja e Estado. Wyklif inspirou ainda outro reformador, o tcheco Jan Huss, reitor da Universidade de Praga, condenado a fogueira pelo Concílio de Constança em 1415.
No mesmo rumo de Wyklif e Huss, Martinho Lutero, na Alemanha do século XVI, condenou os abusos da autoridade papal e reivindicou a livre interpretação da Bíblia, a liberdade da fé e a autonomia do poder estatal em relação a autoridade religiosa. Mas, ao contrário de seus predecessores, Lutero conseguiu o apoio dos príncipes alemães e a quebra da unidade católica do Ocidente ao propor a liberdade religiosa. Outro reformador, João Calvino, um francês radicado na Suíça, seguiu-lhe os passos, apesar de haver divergências nas propostas de ambos.
Os protestantes, entretanto, não exerceram a tolerância que reivindicavam para si, pois dissidentes do protestantismo eram igualmente eliminados como heréticos. Um exemplo foram as perseguições aos anabatistas. Outro exemplo foram os hussitas, continuadores de Jan Huss, que foram rejeitados tanto por católicos como por protestantes. O reformador João Calvino agiu de forma tão inquisitorial quanto os inquisidores católicos, mandando queimar vivo o médico espanhol Miguel Serveto (que descobriu como funcionava a circulação sanguínea), por considerá-lo herético, uma vez que ele não aceitava o dogma da Trindade. A liberdade religiosa anunciada pela Reforma nasceu semeada de intolerância e foi preciso alguns séculos para que o clamor de espíritos mais liberais aplacasse o sangue das guerras e diminuísse o número de fogueiras.
A partir da Reforma, deflagrou-se uma reação, denominada Contra-Reforma. Tratava-se de um programa da Igreja Católica de reforma interna, de reconquista de adeptos e de combate as divergências. Assim, justamente no Renascimento e no século XVII – marcado pelo racionalismo e pelo avanço das ciências – a intolerância e a violência foram maiores do que durante o período medieval. Enquanto Abelardo, Roger Bacon e Ockham haviam sido perseguidos e aprisionados temporariamente, Giordano Bruno foi morto na fogueira em 1600 e Galileu foi obrigado a abjurar por ordem da Igreja Católica. Kepler foi perseguido por protestantes e católicos.
Na Contra-Reforma, surgiu a Companhia de Jesus, que foi o braço de ferro da Igreja Católica para a reconquista de adeptos perdidos e a conquista de novos fiéis no Oriente e nas Américas. Nos séculos XVI e XVII, houve também um recrudescimento da Inquisição, sobretudo na Espanha e em Portugal. A colonização da América Latina foi um projeto ancorado no programa da Contra-Reforma. O Brasil foi conquistado dentro desse espírito de sujeição monárquica e de doutrinação jesuítica, sem reflexo dos avanços que a modernidade vinha propondo.
Observa-se assim que, se por um lado os espíritos se arejavam e novos horizontes e abriam na cultura, por outro o fanatismo, a violência e o obscurantismo demoraram a se desfazer.
Uma das heranças positivas deflagradas pela Reforma foi a preocupação com a educação. Pela necessidade de instruir o povo para a leitura da Bíblia, o próprio Lutero propôs a criação de escolas pelos príncipes, a obrigatoriedade da educação para as classes populares e o uso de métodos lúdicos para as crianças terem prazer em aprender. A Reforma teve uma marca profunda na área da educação, o que se comprova pelo fato de os grandes educadores que fizeram as revoluções pedagógicas dos séculos XVII, XVIII e XIX terem nascido em países protestantes – entre eles, destacam-se Comenius, Rousseau e Pestalozzi, respectivamente.
Os jesuítas também se empenharam em aberturas de colégios e em um amplo processo de educação, do qual no Brasil, durante os duzentos primeiros anos de colonização, foram os únicos promotores. Em que pese o caráter catequético de sua pedagogia, ainda assim deram uma contribuição a expansão cultural.

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