Os antecedentes da Reforma protestante, que quebraria a
hegemonia da Igreja Católica, encontravam-se, no século XIV, presentes no
teólogo, professor da Universidade de Oxford e primeiro tradutor da Bíblia para
o inglês John Wyklif. Ele se pôs contra o papado e pregou a necessidade da
leitura direta da Bíblia e a separação entre Igreja e Estado. Wyklif inspirou
ainda outro reformador, o tcheco Jan Huss, reitor da Universidade de Praga,
condenado a fogueira pelo Concílio de Constança em 1415.
No mesmo rumo de Wyklif e Huss, Martinho Lutero, na
Alemanha do século XVI, condenou os abusos da autoridade papal e reivindicou a
livre interpretação da Bíblia, a liberdade da fé e a autonomia do poder estatal
em relação a autoridade religiosa. Mas, ao contrário de seus predecessores,
Lutero conseguiu o apoio dos príncipes alemães e a quebra da unidade católica
do Ocidente ao propor a liberdade religiosa. Outro reformador, João Calvino, um
francês radicado na Suíça, seguiu-lhe os passos, apesar de haver divergências
nas propostas de ambos.
Os protestantes, entretanto, não exerceram a tolerância
que reivindicavam para si, pois dissidentes do protestantismo eram igualmente
eliminados como heréticos. Um exemplo foram as perseguições aos anabatistas.
Outro exemplo foram os hussitas, continuadores de Jan Huss, que foram
rejeitados tanto por católicos como por protestantes. O reformador João Calvino
agiu de forma tão inquisitorial quanto os inquisidores católicos, mandando
queimar vivo o médico espanhol Miguel Serveto (que descobriu como funcionava a
circulação sanguínea), por considerá-lo herético, uma vez que ele não aceitava
o dogma da Trindade. A liberdade religiosa anunciada pela Reforma nasceu
semeada de intolerância e foi preciso alguns séculos para que o clamor de
espíritos mais liberais aplacasse o sangue das guerras e diminuísse o número de
fogueiras.
A partir da Reforma, deflagrou-se uma reação, denominada
Contra-Reforma. Tratava-se de um programa da Igreja Católica de reforma
interna, de reconquista de adeptos e de combate as divergências. Assim,
justamente no Renascimento e no século XVII – marcado pelo racionalismo e pelo
avanço das ciências – a intolerância e a violência foram maiores do que durante
o período medieval. Enquanto Abelardo, Roger Bacon e Ockham haviam sido
perseguidos e aprisionados temporariamente, Giordano Bruno foi morto na
fogueira em 1600 e Galileu foi obrigado a abjurar por ordem da Igreja Católica.
Kepler foi perseguido por protestantes e católicos.
Na Contra-Reforma, surgiu a Companhia de Jesus, que foi o
braço de ferro da Igreja Católica para a reconquista de adeptos perdidos e a
conquista de novos fiéis no Oriente e nas Américas. Nos séculos XVI e XVII,
houve também um recrudescimento da Inquisição, sobretudo na Espanha e em
Portugal. A colonização da América Latina foi um projeto ancorado no programa
da Contra-Reforma. O Brasil foi conquistado dentro desse espírito de sujeição
monárquica e de doutrinação jesuítica, sem reflexo dos avanços que a
modernidade vinha propondo.
Observa-se assim que, se por um lado os espíritos se
arejavam e novos horizontes e abriam na cultura, por outro o fanatismo, a
violência e o obscurantismo demoraram a se desfazer.
Uma das heranças positivas deflagradas pela Reforma foi a
preocupação com a educação. Pela necessidade de instruir o povo para a leitura
da Bíblia, o próprio Lutero propôs a criação de escolas pelos príncipes, a
obrigatoriedade da educação para as classes populares e o uso de métodos
lúdicos para as crianças terem prazer em aprender. A Reforma teve uma marca
profunda na área da educação, o que se comprova pelo fato de os grandes
educadores que fizeram as revoluções pedagógicas dos séculos XVII, XVIII e XIX
terem nascido em países protestantes – entre eles, destacam-se Comenius,
Rousseau e Pestalozzi, respectivamente.
Os jesuítas também se empenharam em aberturas de colégios
e em um amplo processo de educação, do qual no Brasil, durante os duzentos
primeiros anos de colonização, foram os únicos promotores. Em que pese o
caráter catequético de sua pedagogia, ainda assim deram uma contribuição a
expansão cultural.
0 comentários:
Postar um comentário