O período helenístico teve início em meados do século IV
a.C., com a morte de Felipe II da Macedônia e a ascensão de seu filho, Alexandre
Magno, estendendo-se até o final do século I a.C., quando a dominação romana se
impôs. Ao assumir o poder em 334 a.C., Alexandre iniciou um período de
conquistas que alargaria o domínio do mundo macedônico sobre a Grécia, a Índia,
a Pérsia, a Síria, o Egito e a Babilônia, entre outros. O seu projeto era
estabelecer um grande império monárquico e hegemônico, que acabasse com a
independência e a liberdade das cidades-estados gregas e acoplasse diversas
cidades, países e povos. Embora o projeto de construir um império sólido não
tenha obtido sucesso, devido a sua morte prematura em 323 a.C., as conquistas
de Alexandre inauguraram uma nova época histórica e promoveram profundas
mudanças políticas, filosóficas e culturais.
A partir desse período, a Grécia teve contato com a
imensidade do mundo, o que fez com que a vida e os costumes dos gregos se
transformassem de forma radical. Iniciaram-se trocas comerciais e culturais
intensas entre o mundo grego e países da África e da Ásia, como a China e a
Índia. As tradições, a cultura e as religiões começaram a se misturar,
provocando encontros culturais sem precedentes até então no mundo ocidental.
Novas cidades se projetaram como centros culturais: Rodes, Pérgamo e
Alexandria. Atenas passou a dividir com elas as atenções dos intelectuais,
principalmente com Alexandria, que viria ter a maior biblioteca do mundo
antigo. Com o desaparecimento da pólis, a idéia do cidadão participativo da
vida pública também desapareceu, e o indivíduo passou a ser súdito do império.
As decisões sobre a vida política e pública não eram mais tomadas pelos
cidadãos na esfera da pólis, mas sim pelo monarca e por seus administradores. O
cidadão, que antes tinha interesse pela política, passou até a ser avesso a
ela.
Toda a Filosofia do século anterior estava ligada a idéia
do cidadão livre, participativo da vida pública, e de uma vida ética ligada à
cidade-estado. As velhas escolas filosóficas de Platão, Aristóteles e mesmo dos
socráticos menores entraram em declínio. A vida do Império tornou os laços
entre o cidadão e o Estado frágeis e distantes, e a cidade deixou de ser o
espaço político. Não existia mais o cidadão da pólis, e sim o cidadão do mundo.
Com isso, o indivíduo começou a isolar-se dentro de si. A era de Alexandre
levou o homem grego a descobrir seu mundo interior, já que o mundo externo
estava em profundo declínio e degradação. Surgiram novas escolas filosóficas,
sendo que as principais desse período foram: o estoicismo, o epicurismo, o
ceticismo e o cinismo. Com elas, novos conteúdos surgiram no pensamento grego.
Pode-se dizer que três traços são comuns nas escolas
filosóficas desse período:
1)
A Filosofia começa a se centrar mais no campo da
ética individual, abandonando a velha preocupação de Platão e Aristóteles em
relacionar ética, política e cidadania. Embora os filósofos helenistas não
tenham deixado completamente as questões políticas – pois muitos desempenharam
papéis importantes aconselhando reis e políticos de cidades gregas, os estóicos
e epicuristas tiveram participação em reformas políticas e sociais de cidades –
o foco principal da reflexão passou a ser o indivíduo em sua singularidade.
Essas escolas estavam preocupadas em ensinar o homem a viver e a morrer,
mostrando o caminho de uma vida de virtudes e, conseqüentemente, feliz, para
que atingisse a verdadeira paz interior e tivesse uma morte sábia. A felicidade
e a paz interior seriam alcançadas por um processo de anulação das paixões e
dos desejos mundanos, pela ausência da dor, pela renúncia e indiferença as
convenções humanas. Dentro desse modelo, o sábio deveria se retirar das
relações com os outros homens para viver recluso no campo, entre aqueles que
compartilham do mesmo ideal. O filosofo, para essas escolas, não seria aquele
que constrói sistemas de pensamento, como Platão e Aristóteles que teriam
criado sistemas metafísicos inchados e desnecessários, afastando-se do
verdadeiro espírito de Sócrates. Elas anunciavam querer recuperar o verdadeiro
espírito socrático: a Filosofia como modo de vida e o filosofo como aquele que
alcançou a serenidade interna e sabe viver e morrer com serenidade.
2)
A explicação de Alexandre ao mundo oriental
permitiu uma intensa troca cultural entre Ocidente e Oriente, dando um novo
impulso as pesquisas filosófico-científicas. As descobertas de uma nova
realidade geográfica e biológica proporcionaram novas perspectivas. O filosofo
Pirro, por exemplo, acompanhou Alexandre até a expedição a Índia e voltou de lá
profundamente impressionado com a cultura do país. O pensamento oriental marcou
de forma profunda o mundo helênico, influenciando as escolas filosóficas.
Nessas escolas floresceram novamente conteúdos de estudos que foram caros aos
pré-socráticos e a Aristóteles, como a Física, a Biologia e a Astronomia.
3)
A cultura grega clássica considerava os gregos
ocidentais o único povo capaz de liberdade, e os não-gregos eram considerados
bárbaros e incapazes por natureza. O preconceito racista dos gregos sofreu
transformações com as conquistas de Alexandre. O jovem conquistador procurou
integrar as culturas ocidentais e orientais, igualando os gregos e os
não-gregos. As escolas filosóficas desse período trataram com mais respeito os
escravos e os não-gregos, admitindo-os, inclusive, como alunos na escola de
Epicuro, por exemplo. O estoicismo teve um grande filosofo escravo, Epíteto. As
mulheres também tiveram mais reconhecimento com essa troca cultural e passaram
a ter alguns direitos reconhecidos, sendo aceitas por Epicuro entre os seus
alunos.
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