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quinta-feira, 14 de março de 2013

O homem como centro

Posted by Hijikata Toshizou on 07:03 with No comments


As divisões históricas são sempre problemáticas, sobretudo no campo das idéias, pois elas sofrem um processo contínuo de transformação que não se encaixa em períodos estanques. A transição do pensamento da Idade Média para a Idade Moderna apresenta-se, assim, como uma longa maturação: iniciada no próprio período medieval, nos séculos XIII e XIV, passou por um período de mudanças rápidas, o Renascimento, e se firmou como Filosofia moderna no século XVII. Os últimos escolásticos, como Roger Bacon e Guilherme Ockham – dois franciscanos ingleses – já anunciavam uma atitude moderna, de não sujeição a fé, de busca independente da verdade e de valorização da experiência e da razão.
As condições sociais, econômicas e culturais começaram justamente a se modificar no século XIII, que é considerado pelos historiadores como um período de gestação do Renascimento, processo iniciado na Itália. Marco Polo, um veneziano que chegou a China no século XIII, simbolizou o início de uma nova época para a consciência européia: o homem ocidental começava a sair de suas raízes feudais, da servidão da terra, para expandir-se pelos mares em busca de novos mercados, encontrando outras culturas. As Cruzadas, guerras religiosas desse período que levaram os europeus ao Oriente Médio e ao norte da África, também foram importantes nesse contexto. Esse processo de saída dos limites ocidentais se estendeu pelos séculos seguintes, tendo como momentos culminantes a descoberta da América e a expansão marítima européia pelo Oriente e pelo Ocidente nos séculos XVI e XVII.
Com a gradual decadência do modelo feudal, os centros urbanos renasceram na Europa e, com eles, surgiu a nova classe dos burgueses (de início, referencia aos habitantes dos burgos). A vida estática da servidão dos campos, regida pelas regras da Igreja, foi se modificando a favor de novas mentalidades. Nesse contexto, muitas das principais cidades européias passaram a contar com universidades influentes: Paris, Oxford, Cambridge, Bolonha, Salamanca, Praga e Heidelberg, entre outras. Esses centros de efervescência intelectual estavam a serviço da escolástica e sob o domínio da Igreja. No entanto, constituíram-se como focos de debates que favoreceram o amadurecimento do pensamento, de modo que entre os próprios escolásticos havia sementes do espírito moderno.
A transição para a Filosofia moderna – cuja raiz está presente no fim da Idade Média e cuja proposta perdurou até o século XX – ocorreu no período do Renascimento. A Renascença se iniciou na Itália, durante o século XIV (o chamado trecento), e ocorreu porque nas terras italianas o feudalismo sempre foi pouco enraizado. Além disso, havia um permanente contato da Itália com o Império Bizantino e com o Oriente Médio, por meio do comércio veneziano e genovês. A Renascença se estendeu ainda pelos séculos XV e XVI, coincidindo com outro fenômeno radicalmente transformador, que foi a Reforma.
No Renascimento, algumas tendências filosóficas se destacaram:
·         Humanismo – A consciência filosófica, cultural, estética e política voltou-se para o ser humano, perdendo o enfoque teocentrista. O pensar se horizontalizou, olhando a terra e diminuindo sua velocidade teológica. O ser humano passou a ser valorizado como senhor da natureza, como ser pensante e brilhante, artista e autor das coisas da terra. Os próprios prazeres terrenos perderam o excessivo peso do pecado imposto pela Igreja. Mas o ser humano permaneceu exaltado como criatura divina, como filho privilegiado do Criador. O humanismo renascentista não foi um humanismo ateu em seus principais autores, entre os quais se destacam Pico della Mirandola, Erasmo de Rotterdam e Thomas More.
Humanismo – O humanismo foi um movimento filosófico do início do Renascimento, que mudou o enfoque escolástico – portanto teocêntrico – da Filosofia, para exaltar o valor e a dignidade do ser humano, que foi visto pelos pensadores humanistas como senhor da criação e detentor de potencialidades e direitos. Hoje em dia, chama-se de humanista qualquer corrente que veja no ser humano o fim e o sentido de todas as coisas.
·         Naturalismo – Começou-se a buscar explicações naturais para os fenômenos da vida, da natureza e do Universo, assistindo-se ao nascimento da Ciência. O Universo passou a ser entendido como ordem matemática, que pode ser interpretada pela razão humana, servindo-se de instrumentos de observação e mensuração. Os grandes astrônomos – como Nicolau Copérnico, Galileu Galilei, Johannes Kepler e Giordano Bruno – fizeram nascer a ciência da observação e da interpretação da natureza, como a descoberta de leis matemáticas. Um conceito novo revolucionou a cosmologia: o conceito de infinito.
·         A volta as fontes greco-romanas – A Idade Média, no seu combate contra o paganismo no intuito de cristianizar a civilização, havia reprimido todas as heranças da Antiguidade clássica. Essa repressão foi feita a ferro e fogo tanto contra os remanescentes das tradições pagãs como contra as divergências dentro do próprio cristianismo, no combate aos hereges. A Academia Platônica, por exemplo, que havia sido fundada em 387 a.C., foi fechada em 529 d.C. pelo Imperador Justiniano, juntamente com o Liceu de Aristóteles, fundado em 335 a.C. Os renascentistas, por sua vez, voltaram-se para a arte, para a literatura e para a Filosofia da Antiguidade, fazendo traduções, buscando inspirações e se reapropriando de idéias e propostas antigas. A obra de Platão, por exemplo, que era quase desconhecida para os medievais, foi lançada em 1400 em Veneza e influenciou fortemente os astrônomos, especialmente pela sua valorização da Matemática.