sexta-feira, 22 de março de 2013

O século XVII

Posted by Hijikata Toshizou on 17:02 with No comments


O século XVII foi o século dos grandes racionalistas e dos grandes empiristas. A razão se firmou como autônoma da fé – o que não significa que se tornou atéia – e o experimentalismo também buscou seu caminho, firmando a Ciência como promessa de domínio do mundo e de prosperidade material. Como intermediária entre a razão e o empirismo, estava a Matemática, vista como uma articulação natural e necessária para desvendar o mundo, seja no plano das idéias lógicas, seja na ordenação da experiência e da observação. Dois nomes simbolizam bem essas tendências do século XVII: Francis Bacon e René Descartes.
Empirismo: Atitude filosófica que considera que o conhecimento só pode ser alcançado pela observação dos fenômenos objetivos e pela experiência concreta. É a fundamentação filosófica do método científico-experimental.
Bacon, no final do século XVI e início do XVII, deu grande impulso as pesquisas científicas e realizou críticas ao modelo da lógica aristotélica que, em sua opinião, escravizara durante muito tempo a Filosofia e a Ciência. Assim, ele é considerado um dos filósofos que iniciaram a modernidade. Sua contribuição foi a introdução do empirismo, no qual todas as proposições, para serem verdadeiras, devem passar pela verificação e avaliação da experiência e da pesquisa. Com isso, pretendia superar a filosofia aristotélica. O conhecimento científico, na sua concepção, deve estar a serviço do ser humano e permitir a ele que domine a natureza, imperando sobre as coisas. Mas, para que a Ciência impere, os indivíduos devem deixar de lado os preconceitos, chamados de ídolos pelo filósofo, que impedem o avanço da razão.
Bacon descreveu uma utopia tecnocrata na obra Nova Atlântida, em que coloca um mundo dominado pela técnica, onde a Ciência traz todas as soluções a humanidade e os próprios governantes são cientistas. Essa visão de Bacon teve influência em concepções cientificistas do século XIX e XX, que adotaram a idéia da Ciência a serviço da felicidade humana e a rejeição de outras áreas do conhecimento.
No mesmo rumo de Bacon, John Locke, médico e filósofo inglês, deu continuidade a essa tradição empirista inglesa (que vinha desde a Idade Média, com Roger Bacon e Guilherme Ockham). Locke se interessou em determinar como se dá o conhecimento humano: segundo ele, pelos sentidos, mas organizados pela razão.
Descartes, por sua vez, elegeu a razão como fonte soberana de conhecimento humano. Procurou construir um sistema filosófico capaz de superar a filosofia escolástica, partindo em primeiro lugar de uma profunda desconfiança por tudo aquilo que tinha aprendido na escola jesuítica em que estudou. Para ele, a filosofia escolástica não merecia confiança, pois se contradizia em suas opiniões e especulações. Adotou, portanto, a dúvida sistemática como princípio de seu método de busca da verdade. Descartes não atentou, entretanto, para o mundo dos fenômenos externos, mas para a sua própria interioridade. Foi aí que descobriu uma razão pensante, espiritual e a própria presença de um Deus racional. Depois dessa certeza de sua subjetividade, passou a olhar o mundo externo para interpretá-lo dentro de uma ordem matemática.
Seguindo os passos de Descartes, destacaram-se mais dois filósofos: Espinosa e Leibniz, que criaram grandes sistemas racionalistas metafísicos. Espinosa identificou Deus e a natureza em uma perfeita ordem universal, na qual a vontade humana se encontra determinada, porque é animada pela centelha divina, que está em toda parte. Apesar de seu racionalismo, Espinosa atribuiu grande valor as emoções, identificando-as inclusive como fonte de ação moral.
Leibniz, um brilhante matemático que, segundo se supõe, descobriu o cálculo infinitesimal, também via no cosmo uma ordem universal e matemática, uma unidade divina. Entretanto, para ele, essa unidade se multiplica em infinitas mônadas, que são particularizações da divindade.
Essa razão moderna, porém, tão confiante em si mesma, foi ao mesmo tempo exaltada e criticada no século XVIII, durante o Iluminismo.
Iluminismo: Tendência filosófica nascida no século XVIII, com um ideário de emancipação humana, valorização da razão, espírito crítico em relação às tradições, proposta de laicização da sociedade e idéias liberais na política e na economia.

quarta-feira, 20 de março de 2013

A energia que acompnha as transformações da matéria

Posted by Hijikata Toshizou on 11:54 with No comments


A descoberta do fogo foi um dos passos mais importantes na evolução da humanidade. O fogo controlado surgiu quando o ser humano aprendeu a acender uma fogueira, na hora desejada. Nesse caso, a energia se apresenta nas formas de luz e calor. Com a luz, o homem primitivo iluminou suas noites e afugentou os animais perigosos e, com o calor, aprendeu a assar seus alimentos, a cozer o barro e, muitos séculos depois, e extrair os metais dos minérios.
Atualmente sabemos que algumas transformações são passageiras ou reversíveis, isto é, podem ser desfeitas. Transformações desse tipo recaem, em geral, no que chamamos de transformações físicas (ou fenômenos físicos). Exemplificando:
·         Em montanhas muito altas, a água se congela; mas com um pouco de calor, a neve ou o gele se derretem facilmente, voltando à forma líquida;
·         Num termômetro, o mercúrio se dilata com o calor e se contrai com o frio, mas continua sendo sempre o mesmo mercúrio;
·         O sal que dissolvemos na água pode ser recuperado, bastando que ocorra a evaporação da água. Outras transformações são mais profundas e freqüentemente irreversíveis, isto é, torna-se difícil (e, às vezes, impossível) retornar à situação inicial. São, em geral, transformações, fenômenos ou reações químicas. Exemplos:
·         Depois de se queimar um pedaço de matéria, é impossível juntar as cinzas e a fumaça finais e refazer a madeira inicial;
·         Depois de se preparar um ovo frito, é impossível fazer o ovo voltar à forma original;
·         Se um objeto de ferro se enferruja, é muito difícil reverter o processo (raspar o objeto antes de pintá-lo significa apenas “jogar a ferrugem fora”, e não recuperar a porção de ferro oxidado). O progresso da civilização foi também devido à procura de novas formas de obtenção de energia. Como exemplo podemos citar que os primeiros seres humanos dependiam de seus músculos para obter energia. Mais tarde, animais foram domesticados e atrelados a moderna, carroças passando a ser utilizados como forte de energia.
A energia proveniente de quedas de água foi aproveitada para movimentar as rodas de água e as turbinas das modernas hidroelétricas, e a energia proveniente dos ventos, para acionar os moinhos e as modernas turbinas eólicas.
Atualmente o consumo de energia é cada vez maior e sua produção, crescentemente diversificada:
·         A queima do carvão e dos derivados de petróleo movimenta caldeiras, automóveis, aviões etc.;
·         A energia elétrica ilumina nossas ruas e edifícios e aciona um grande número de aparelhos domésticos e industriais;
·         A energia química de pilhas e baterias é fundamental para o funcionamento de aparelhos portáteis (rádios, telefones celulares etc.);
·         A energia nuclear, defendida por alguns e combatida por outros, talvez se torne importante no futuro.
E, afinal, o que é energia? É difícil defini-la por se tratar de algo que não é material, mas nem por isso duvidamos de sua existência. De fato, até hoje ninguém viu a energia elétrica passando por um fio, mas, mesmo assim, evitamos o contato direto com fios desencapados.
Costuma-se dizer, de modo geral, que:

segunda-feira, 18 de março de 2013

A primeira visão da química

Posted by Hijikata Toshizou on 16:00 with No comments


Observando a natureza

Desde o início da civilização até hoje, a humanidade pôde observar que a natureza é formada por materiais muito diferentes entre si. O solo em que pisamos pode ser de: terra vermelha, terra preta, areia, pedras etc. Os vegetais também apresentam enorme variedade: existem desde os minúsculos musgos até árvores gigantescas; a madeira pode ser mais mole ou mais dura; as flores têm cores muito diversificadas; há grandes diferenças entre os frutos, e assim por diante. O mesmo ocorre com os animais: existem aves, mamíferos, peixes etc. de formas, tamanhos, e constituições muito diferentes entre si. Todos esses materiais que nos rodeiam (a terra, as pedras, a água e os seres vivos) constituem o que chamamos matéria.
·         Matéria é tudo que tem massa e ocupa lugar no espaço (isto é, tem volume).
Massa e volume são então propriedades gerais da matéria. É bom lembrar também que a matéria pode se apresentar sólida (por exemplo, as pedras), líquida (por exemplo, a água) ou gasosa (por exemplo, o ar que respiramos). O trabalho de separação dos diferentes materiais encontrados na natureza foi uma atividade muito importante para a humanidade. Um primeiro cuidado do homem primitivo deve ter sido o de reconhecer os alimentos comestíveis e os venenosos, bem como o de encontrar as plantas que podiam curar suas enfermidades.
Com o passa dos séculos, os seres humanos foram aperfeiçoando as técnicas de extração e separação de matérias úteis ao seu dia-a-dia. Assim, por exemplo: dos vegetais extraíram as tintas para pintar seus corpos e seus utensílios; de terra separaram metais, como a prata e o ouro; do leite, a gordura para fabricar a manteiga, e assim por diante. Podemos então dizer que:
·         Separações são os processos que visam isolar os diferentes materiais encontrados numa mistura.

As transformações da matéria

 Ao longo do tempo, a humanidade tem observado que, sob certas condições, a matéria se transforma. A própria natureza se carrega de muitas transformações. Assim, por exemplo: o frio intenso transforma a água em gelo transforma uma árvore em cinzas; com o tempo, os frutos apodrecem; o ferro se enferruja; que e até nosso corpo envelhecem Dizemos então:
·         Transformação material é toda a qualquer alteração sofria pela matéria.
As transformações da matéria são também chamadas de fenômenos materiais (ou simplesmente fenômenos), sendo que, nessa expressão, a palavra “fenômeno” significa apenas transformação, não significando nada de extraordinário, fantástico ou sobrenatural.
É muito importante lembrar também que os seres humanos têm provocado transformações na matéria, em seu próprio interesse. Assim, por exemplo, com o fogo conseguiu:
·         Assar a carne dos animais para melhorar sua alimentação;
·         Cozer vasos de barro para aguarda água ou alimentos;
·         Cozer blocos de barro, transformando-se em tijolos, para construir suas casas; etc.
Usando técnicas cada vez mais avançadas, os seres humanos conseguiram, com o passar dos séculos, transformar, por exemplo:
·         Fibras vegetais ou pêlos de animais em tecidos para se abrigarem;
·         Produtos vegetais em corantes para colorir seus tecidos;
·         Minérios em metais, como o cobre, o ferro, o chumbo etc.
Atualmente a Química está presente em todas as situações de nosso cotidiano. De fato, grande parte dos avanços tecnológicos obtidos pela civilização ocorreu graças à curiosidade e ao esforço em desenvolver novas técnicas para separar e transformar os materiais encontrados na natureza. Do mesmo modo que, ao longo do tempo, os cozinheiros procuraram transformar os alimentos em pratos cada vez mais saborosos, os técnicos e os cientistas experimentaram novos caminhos para transformar os materiais da natureza em produtos que permitem melhorar a qualidade de vida das pessoas. Podemos então dizer que um dos conceitos de experiência em Química refere-se às tentativas de separar e reconhecer alguns materiais e, em seguida, seguida transformá-los em novos produtos.
Por meio dessas técnicas podemos fabricar:
·         Adubos, inseticidas e diversos insumo que aumentam a produção agrícola;
·         Produtos que permitem conservar os alimentos por mais tempo;
·         Fibras e tecidos para produzir desde roupas delicadas até coletes à prova de balas;
·         Cosméticos e perfumes para embelezar as pessoas;
·         Medicamentos específicos para o tratamento de inúmeras doenças;
·         Materiais variados para a construção de casas e edifícios;
·         Veículos (carros, ônibus, aviões, navios etc.) para o transporte de pessoas e cargas;
·         Chips de computadores que revolucionaram a vida moderna, pois armazenam milhares de informações.

quinta-feira, 14 de março de 2013

Filosofia no Brasil

Posted by Hijikata Toshizou on 07:34 with No comments

Filosofia no Brasil

Quando se fala em Filosofia no Brasil, há um questionamento imediato: existe de fato Filosofia entre nós? Isso porque há estudiosos que não consideram pertinente falar em Filosofia brasileira, porque não desenvolvemos nenhum sistema original nem criamos uma escola filosófica que se tenha projetado com influências internas e externas. Outros, porém, admitem que, embora influenciados por filosofias vindas de fora, temos um viés original de interpretá-las e vivenciá-las. Trata-se de uma questão em aberto.
O pensamento intelectual brasileiro teve sua origem no século XVI, ainda no período da colônia, com a chegada dos jesuítas, que trouxeram as primeiras idéias filosóficas, vinculadas à política colonizadora dos portugueses e ao projeto empreendido pela Igreja Católica de cristianização das Américas. Do século XVI a meados do século XVIII, eles representaram os principais pensadores e educadores em solo nacional, marcando o modelo intelectual do início da colonização. Nesse período, ocorreu a vinda de uma pequena nobreza de Portugal para organizar a empresa colonial. O pensamento e o modelo educacional jesuíticos atendiam aos interesses dessa camada dirigente, em especial dos capitalistas mercantis.
O pensamento jesuítico brasileiro tinha por inspiração a filosofia escolástica tomista, um modelo filosófico metafísico, baseado nas teorias aristotélicas do ser, compatibilizadas com a doutrina cristã do Deus criador e da alma imortal. A proposta filosófica e pedagógica dos jesuítas estava contida no documento Ratio Studiorum, um manual que servia de suporte às suas ações. Esse documento recomendava o zelo pela doutrina de Aristóteles, que é a base da teologia de São Tomás de Aquino. De modo geral, a Ratio continha também o plano educacional dos jesuítas, que se dividia em três cursos básicos: humanidades, Filosofia e Ciências e teologia. Era uma educação para a elite dirigente, ligada à metrópole, pois a população de índios e negros (escravos) recebia uma educação voltada apenas ao trabalho manual e à catequese. A educação proporcionada pelos jesuítas às classes dominantes, por sua vez, era de boa formação cultural e humanista. No entanto, não permitia autonomia de pensamento, que seria a marca do pensamento moderno.
Nos primeiros séculos da colonização, Portugal estava afastado do influxo de modernidade no qual mergulhavam outras regiões da Europa, impulsionadas pelo pensamento filosófico moderno e científico. Os jesuítas, de grande influência nas terras portuguesas, defendiam um modelo de pensamento escolástico e condenavam os estudos dos filósofos modernos, como Descartes, Bacon e Locke. A metrópole, que exercia sobre o Brasil um monopólio de natureza também intelectual, impunha a colônia o modelo jesuítico.
Somente em 1759, quando os jesuítas foram expulsos de Portugal e do Brasil pela ação do Marquês de Pombal, iniciou-se uma influência iluminista na metrópole. Os intelectuais portugueses tomavam consciência da necessidade de modernizar seu país, a partir das novas idéias que circulavam no continente europeu. As reformas de Pombal visavam colocar Portugal no nível de países como a Inglaterra, transformando-o em uma nação capitalista, de acordo com os interesses das camadas dominantes.
No final do século XVIII, a elite intelectual brasileira, a exemplo da portuguesa, começou a se modernizar. Os pensadores tomaram contato com idéias filosóficas e científicas do mundo moderno. Entre os séculos XVII e XVIII, o Brasil passou por transformações internas que geraram impacto na vida intelectual dos brasileiros. A população do país, nesse período, chegou a quase três milhões de habitantes; surgiram centros urbanos que favoreceram as atividades intelectuais. Os pensadores brasileiros voltaram-se para as questões científicas e técnicas do pensamento moderno. Os jovens que iam estudar em Portugal voltavam ao Brasil impregnados do pensamento iluminista, como foi o caso de Francisco José Lacerda Almeida (geólogo), Alexandre Rodrigues Ferreira (médico e naturalista), José Bonifácio de Andrada e Silva (naturalista e mineralogista) e José Joaquim de Azeredo Coutinho (fundador do Seminário de Olinda). Esses intelectuais defendiam a filosofia natural, ou seja, o estudo científico-racional da natureza. A elite pretendia renovar o pensamento brasileiro e trazer prosperidade e civilização ao país, para colocá-lo em consonância com o modelo filosófico e científico europeu. No início do século XIX, foi fundado o Seminário de Olinda, que visava concretizar essa intenção, dando atenção às ciências naturais, físicas e à Matemática na formação dos párocos. Esse colégio incentivava uma formação baseada na investigação e, durante certo tempo, foi o melhor de nível secundário no Brasil.
O movimento tomista continuou a marcar de forma profunda a nossa cultura durante o século XVIII. A hegemonia do pensamento escolástico foi quebrada somente no decorrer do século XIX. Na virada entre esses dois séculos, as idéias do Iluminismo francês tiveram grande aceitação pela elite brasileira. Os círculos intelectuais difundiam as idéias racionalistas das luzes, graças às vitórias da Revolução Americana e da Revolução Francesa, bem vistas por pensadores brasileiros, embora a mentalidade nacional ainda fosse fortemente influenciada pelo pensamento escolástico.
As razões que levaram nossos intelectuais a se voltarem para as idéias iluministas foi a necessidade de se criar um conjunto de pensamentos políticos para refletir sobre o país. O Brasil ainda vivia um clima de submissão a Portugal e, do ponto de vista interno, escravos e mestiços estavam subordinados aos senhores brancos. A Inconfidência Mineira, de 1789, foi uma revolta contra o domínio português promovida pelas elites brasileiras. Estava impregnada de idéias iluministas, mas ainda não plenamente pelos aspectos igualitários desse pensamento, pois a escravidão, por exemplo, não foi posta em questão.
Em 1807, quando Portugal foi invadido pelas tropas napoleônicas francesas, a família real e a corte se viram obrigadas a vir para o Brasil, sob a proteção da guarda inglesa. Essa vinda melhorou as condições culturais do país e trouxe uma mentalidade iluminista e científica. Ocorreram então várias mudanças no campo intelectual brasileiro: a criação da imprensa (1808), com a circulação do primeiro jornal – A Gazeta do Rio – e com as duas primeiras revistas – As Variações ou Ensaios de Literatura e O Patriota (1813) – a construção da Biblioteca Pública (1810), do Jardim Botânico (1810) e do Museu Nacional (1818). Também foram criados institutos de ensino superior em 1808 e 1810. Para a formação de oficiais e engenheiros, surgiram, respectivamente, a Academia Real da Marinha e a Academia Real Militar. No ano de 1812, foi construído na cidade do Rio de Janeiro um laboratório de Química. Surgiram escolas de Engenharia, Medicina e Direito. Cursos de Economia, Agricultura, Botânica, Química, Geologia e Mineralogia foram implementados no país. A vinda da corte trouxe também a possibilidade de um maior contato com a cultura européia em geral e a francesa de modo particular.
Embora o impulso cultural desse período não tenha contribuído para fazer nascer no país puma escola filosófica, ajudou a difundir o pensamento iluminista, liberal e científico. Frei Caneca (1774-1825) foi um propagandista do liberalismo político. Defendia a independência do país e um governo constitucional, a exemplo do que acontecia na Europa. Segundo Frei Caneca, Deus não determina qual deve ser a melhor forma de governo, deixando tal julgamento aos homens; e é também papel dos homens escolher quando os governos devem ser mudados.
A vinda da corte atraiu ao Brasil Silvestre Pinheiro Ferreira (1769-1846), que deixou Portugal por ser defensor do pensamento de Locke, Condillac e dos enciclopedistas franceses, bem como por criticar as posições do governo português. Ele também trouxe ao Brasil pensadores como Leibniz, Kant, Fichte, Schelling e Hegel. A Filosofia alemã teve grande espaço em suas conferências. Ele defendia a importância da Ciência, do naturalismo e da experiência sensível como fundamento do conhecimento. Esses dois intelectuais assumiram posições de destaque no período imperial do Brasil.
Em Portugal, nessa mesma época, a população estava descontente com o fato de a corte estar no solo da colônia e o comando da nação, em mãos inglesas. Surgiram revoltas no país, levando a uma situação insustentável. Em 1821, o grupo chefiado por D. João VI voltou à sua terra natal, o que contribuiu para a emancipação política do Brasil. Os intelectuais brasileiros desejavam conciliar os anseios de modernidade com a realidade do país. Para isso, era preciso reformar as instituições e reestruturar a política e a sociedade, adotando os princípios do liberalismo político e econômico. As camadas dominantes nacionais queriam que as classes dominantes portuguesas reconhecessem o direito da colônia à liberdade de comércio. E a elite intelectual, sob influência dos ideais revolucionários franceses, desejava a ruptura completa com a metrópole. Com a saída da família real, houve uma tentativa por parte de Portugal de recolonizar o Brasil, porém, as elites não aceitaram perder os privilégios adquiridos. Esse conflito, além das idéias que pairavam no momento, levou o país à autonomia política em 1822.
O debate sobre a liberdade política e econômica, fortemente marcado pelo discurso liberal, esteve nas principais discussões das décadas iniciais do século XIX. A Filosofia francesa serviu de modelo para os pensadores brasileiros, mais especificamente a inspiração da escola eclética, liderada por Victor Cousin. Embora de modo pouco profundo, a intelectualidade criou no Brasil a escola filosófica eclética, que, a exemplo de Cousin, buscou harmonizar as diferentes correntes de pensamento que existiam no país. Esse fato contribuiu para a sua boa aceitação. Os intelectuais dessa escola aspiravam entender o desenvolvimento e o encadeamento do ser humano, da História e da natureza, bem como descobrir qual é a melhor forma de organização social e política. A política passou a ser vista por esses pensadores como a Ciência que levaria os indivíduos à felicidade e ao progresso. Para os adeptos brasileiros do ecletismo, tanto o ser humano como as suas criações poderiam progredir ao infinito.
·         Ecletismo. Proposta filosófica iniciada por Victor Cousin, em meados do século XIX, que pretendia fazer uma espécie de síntese de diversas teorias filosóficas. A posição do ecletismo era espiritualista, ligada às tradições religiosas e culturais.
Os anos 1850 foram marcados por intensas reformas e transformações da sociedade e da cultura brasileira. Nessa época, ocorreu o fim do tráfico de escravos. Alguns investimentos externos e empréstimos para construir infra-estrutura foram concedidos ao país; ocorreu a importação de máquinas e tecnologia da Europa; construíram-se várias estradas de ferro; iniciou-se o desenvolvimento do processo industrial. O desenvolvimento econômico levou o Brasil a estreitar ainda mais os laços com a Europa, fonte fornecedora não apenas de tecnologia e máquinas – que eram importadas – mas também de novas idéias, que continuavam a inspirar os intelectuais brasileiros.
O processo de modernização da sociedade levou a um otimismo por parte dos nossos pensadores, que não duvidavam de que o Brasil poderia ser elevado ao nível das nações desenvolvidas do século XIX. Almejar esse nível de desenvolvimento significava acelerar o processo de modernização e, para isso, seria necessário introduzir novas idéias. Estas chegaram ao país, enfraquecendo a Filosofia eclética, que entrou em declínio. As crenças básicas do liberalismo e na Ciência, mais especificamente no darwinismo e no positivismo, tornaram-se pilares das forças modernizantes que atingiram o Brasil, que se consolidaram entre os filhos da burguesia comercial brasileira, formados nas escolas técnicas, militares, nas faculdades de Direito e Medicina, ou ainda, em universidades européias.
A geração de 1870 discutiu e propôs reformas institucionais, políticas e culturais, pretendendo equiparar o Brasil às grandes nações mundiais. Uma nova geração de intelectuais se formou, ligada ao cientificismo, que vigorava no ensino europeu e brasileiro. Quase toda a Filosofia passou a ser dominada pelas idéias positivistas de Auguste Comte, pelas teses da biologia evolucionista de Charles Darwin, pelo evolucionismo de Herbert Spencer e pelo materialismo de Ernst Haeckel. Os três autores consideravam a evolução como chave central para se entender a natureza.
Spencer aplicou o evolucionismo à sociedade e criou o que foi chamado de darwinismo social, aplicando aquela célebre expressão da seleção natural – a vitória do mais apto – aos indivíduos, às nações e às etnias, justificando, assim, idéias imperialistas e de dominação européia. Já Haeckel defendeu a idéia de que tanto a ética como a economia e a política deveriam ser aplicações da Biologia. Seu evolucionismo apresentava aspectos racistas, com a concepção de que existiam diferentes espécies na humanidade, sendo que a espécie superior era a branca européia. Influenciada por esses autores, a intelectualidade brasileira defendeu de forma convicta que só seria possível explicar e orientar o comportamento humano e as mudanças sociais pela via da ciência positivista e evolucionista, incorporando também idéias racistas, que combinavam com a mentalidade escravista da sociedade da época. Aliás, a abolição da escravatura não representou uma superação dessa mentalidade, pois quando da imigração européia, no final do século XIX e início do século XX, um dos argumentos usados para o seu incentivo era o do branqueamento da raça, pois, segundo alguns positivistas e evolucionistas, um dos motivos do atraso cultural brasileiro era o excesso de sangue negro e indígena de nosso povo.
As correntes filosóficas brasileiras estavam empenhadas em vencer o atraso cultural do país, colocando-o em contato com a civilização mundial. As reflexões, por isso, voltavam-se muito mais para o lado prático e social das teorias do que para o aprofundamento filosófico.
Luiz Pereira Barreto (1840-1923), um pensador positivista, expressou essa idéia dizendo que era fundamental elevar o Brasil, pois, no seu entender, a nação estava sujeita às leis gerais de progresso que regiam a humanidade inteira – e o que diferenciava o Brasil da civilização ocidental era apenas uma questão de fase evolutiva e não de natureza inferior. O pensador brasileiro estava baseado nas teses comteanas de que a lei que rege a História é a lei do progresso, determinando a evolução e regendo a vida. Os positivistas brasileiros elaboram um projeto para o desenvolvimento da nação, com idéias de liberalismo econômico, governo republicano, luta contra a escravidão, separação entre Estado e Igreja, instituição do casamento civil, secularização dos cemitérios, libertação da mulher e crença na melhoria da educação como chave para resolver os problemas do país. Além de Pereira Barreto, entre os defensores do positivismo no Brasil destacam-se Miguel Lemos (1854-1917) e Teixeira Mendes (1855-1927).
Os darwinistas e evolucionistas spencerianos e haeckelianos se apoiavam na teoria de Darwin de que a luta pela vida e pela sobrevivência é vencida pelo mais apto no processo evolutivo. Com esse argumento, acreditavam combater a apatia e a incompetência nos setores da política, das instituições, da saúde e da economia brasileira. Assim, eram antimonarquistas, republicanos, agitadores e propagandistas, como era o caso de Tobias Barreto (1839-1889) e Miranda Azevedo (1851-1907). Condenaram o conservadorismo da sociedade, criticaram as instituições obsoletas e a Igreja, as escolas inadequadas e a política ultrapassada. Tobias Barreto, um dos principais nomes da Filosofia brasileira do século XIX, fundou a Escola de Recife, de grande influência na cultura filosófica nacional. Admirador de Haeckel, Barreto lançou o germanismo, que pretendia trazer ao Brasil idéias da Filosofia alemã, superando a predominância das vertentes francesas.
Podemos dizer que, apesar de suas diferenças, positivistas, darwinistas e evolucionistas tiveram no Brasil pontos em comum tanto em seu programa de ação quanto na valorização da Ciência e do naturalismo. A complexidade do cenário do final do Império, o influxo modernizador da sociedade, as mudanças culturais e as transformações econômico-políticas contribuíram decisivamente para o nascimento da República brasileira, em 1889.
No início do século XX, os novos intelectuais brasileiros apresentavam uma mentalidade marcada por uma espécie de idolatria à Ciência. O positivismo, o darwinismo, o spencerianismo, o germanismo e o materialismo tiveram amplo espaço no pensamento filosófico das primeiras décadas do século XX.
O quadro filosófico no Brasil do início da República completa-se com o processo de renovação da filosofia católica a partir da separação entre a Igreja e o Estado. A intelectualidade brasileira católica se voltou para o neotomismo, corrente filosófica que procurava retomar a discussão tomista em um contexto da Filosofia e da Ciência moderna, fortalecendo a filosofia católica. Os beneditinos fundaram em 1908, em São Paulo, a Faculdade de Filosofia São Bento, que foi o primeiro curso regular de Filosofia no país e que irradiou a filosofia neotomista pelo Brasil.
A influência do anarquismo também marcou presença no pensamento brasileiro do século XX. Os primeiros imigrantes europeus, que vieram substituir a mão-de-obra escrava nas lavouras de café e nas emergentes indústrias brasileiras, trouxeram da Europa as idéias anarquistas. Estas, as quais os trabalhadores tiveram acesso, motivaram as primeiras lutas operárias e as criticas em relação ao capitalismo industrial. Os anarquistas brasileiros não constituíram nenhuma linha filosófica, porque estavam mais preocupados com a ação revolucionária do que com o pensamento analítico intelectual. No entanto, tiveram um papel importante, organizando os primeiros movimentos sociais e operários e fundando várias escolas até a década de 1920.
A partir da década de 1930, o cenário cultural e filosófico-científico da nação se modificou, em decorrência de conflitos entre grupos internos e de transformações econômicas e políticas da própria sociedade. Um forte processo de industrialização vinha superar o modelo agrário-exportador como base da economia. A modernização da sociedade brasileira estava a todo vapor e as elites do país visavam a acelerar tal processo. Essas transformações acabaram por mudar o panorama social, cultural e científico. O desenvolvimento industrial contribuiu para fortalecer a visão científica e o desenvolvimento da técnica, isso porque a indústria precisava de pesquisas científicas e tecnologia para sua consolidação e expansão.
Essas mudanças levaram a um crescente interesse pelas questões sociais. Pontes de Miranda, em 1926, lançou o livro Introdução à Sociologia geral, escrito na tentativa de entender o processo social e cultural no país e estruturar elementos de um pensamento sociológico, que marcou uma tendência no pensamento do século XX. A necessidade de conhecimentos técnicos levava à expansão e à renovação dos modelos educacionais. Foi criada a universidade e os institutos de pesquisa, a fim de promover a pesquisa científica de qualidade. A economia e a cultural brasileira entravam no processo de internacionalização, o que gerou intensas trocas culturais e de idéias filosóficas. A partir desse ponto, a Filosofia passou a ser menos atuante social e politicamente, para se fixar no mundo acadêmico.
No decorrer do século XX, a Filosofia no Brasil esteve conectada com todos os movimentos mais importantes que se passaram na Europa e nos Estados Unidos, com leituras e apropriações nacionais das teorias de cada momento.
Por conta disso, o cientificismo brasileiro foi reformulado a partir do contato com as correntes de pensamento denominadas neopositivismo ou positivismo lógico. Os intelectuais dessa corrente procuraram superar as concepções das correntes positivistas do século anterior. Esse movimento significou uma ruptura com o pensamento de Comte e voltou-se para a filosofia do Círculo de Viena. Esses brasileiros criticavam o aspecto dogmático e metafísico da teoria comteana dos três estados, pretendendo uma reavaliação do papel da Ciência que, na verdade, tinha um caráter dinâmico e inconcluso. Nessa mesma linha de pensamento, um outro grupo de pensadores brasileiros fez uma crítica ao cientificismo a partir das obras de Bachelard e Karl Popper. Embora a tendência cientificista tenha sido forte em todo o século XX junto à intelectualidade brasileira, deve-se saber que floresceram outras perspectivas filosóficas.
·         Neopositivismo – Filosofia do chamado Círculo de Viena, que reuniu filósofos, matemáticos e homens de Ciência com o objetivo de criar um positivismo lógico ou empirismo lógico. Eles dividiram as questões do conhecimento em questões matemáticas, empíricas ou de lógica de linguagem, opondo-se a toda metafísica.
Outra corrente que marcou forte presença no cenário brasileiro do século XX foi o marxismo. As idéias marxistas no Brasil contribuíram para criar um movimento de esquerda, constituindo-se um pensamento socialista muito mais sólido do que havia sido o anarquista em terras brasileiras. A partir de 1935, o marxismo passou a ser o centro das atenções operárias, apoiado na força do Partido Comunista, fundado em 1922. Esse movimento foi duramente perseguido, assim como todo pensamento de esquerda, primeiro na ditadura de Getúlio Vargas e, depois, nos anos da ditadura militar. Mas a presença do pensamento marxista no âmbito da Filosofia brasileira pode ser percebida até a atualidade.
As posturas dos pensadores que criticaram o positivismo, buscaram estruturar o pensamento sociológico e formaram um pensamento de esquerda colocaram o país no quadro da Filosofia contemporânea.
A fenomenologia de Husserl, Merleau-Ponty, Max Scheler e Heidegger se desenvolveu nos círculos intelectuais brasileiros como reação à visão estreita do positivismo. Muitos intelectuais buscaram apoio nas correntes fenomenológicas para fundamentar as ciências humanas sob novas bases.
Um outro movimento filosófico que teve presença marcante na cultura brasileira foi o existencialismo. Alguns de seus representantes na Europa foram Sartre, Jaspers e Marcel, influenciados por Heidegger. No Brasil, o pensamento existencialista, principalmente o francês, ganhou força entre os estudantes universitários das décadas de 1950e 1960 e nos círculos intelectuais. Sartre foi fartamente lido nesse período. O existencialismo ditou uma nova postura diante do mundo e da existência. A vertente existencialista de Emmanuel Mounier, de cunho cristão, foi uma das expressões mais difundidas na cultura brasileira nessa linha. Os círculos de intelectuais e ativistas católicos das décadas de 1950 e 1960 buscaram inspiração nesse filósofo francês, para ressaltar o humanismo que sustentava a dignidade da pessoa humana e a luta transformadora sobre a realidade social e política. O existencialismo foi reprimido no Brasil pelo governo militar por ser revolucionário e por incitar à transformação política e social.
A partir da década de 1960, outra corrente filosófica exerceu inspiração no pensamento brasileiro: a Escola de Frankfurt. O Brasil começava a se inserir em um processo de cultura de massa e de capitalismo globalizado; assim, o instrumental crítico da Escola de Frankfurt serviu como análise deste novo contexto. Surgiram aqui movimentos estudantis, com posições contestadoras, engajados na crítica dos valores do capitalismo global. Os movimentos chamados de contra-cultura – movimentos feministas, gays e hippies, representantes das minorias sociais e culturais reclamando seus direitos e sua liberdade – se espalhavam nos centros universitários. O momento era de contestação radical e de reivindicação da liberdade (seja ela política, sexual ou pela liberação das drogas). A civilização contemporânea atravessava uma intensa crise. Os intelectuais brasileiros encontraram no pensamento dos frankfurtianos elementos para entender a sociedade de massa e tecnológica, bem como analisar o contexto do país.
A Filosofia brasileira apresentou, também a partir dos anos 1960, uma onda irracionalista, de crítica ao processo repressor da razão, que chegava ao país e impregnava a cultura nacional. Nas últimas décadas do século XX, irrompeu uma filosofia no cenário brasileiro cujas influências se devem a filósofos como Nietzsche, Deleuze, Foucault e Guatarri. Essa filosofia se desenvolveu na Europa, na América e no Brasil na esteira das transformações culturais e econômicas desse século. O modelo econômico industrial foi superado por um capitalismo tecnológico, pós-industrial, e que sustenta uma sociedade informatizada. No campo filosófico e cultural, os modelos de Ciência, Filosofia e Arte passaram a ser questionados. A modernidade teria baseado seu discurso em uma ilusão: a de que a razão poderia levar o ser humano à emancipação. O alvo de crítica dessa filosofia é a própria modernidade e a razão como base do conhecimento e do desenvolvimento. A modernidade é vista como algo a ser superado e afirma-se que chegamos a uma fase denominada pós-moderna. A pós-modernidade marcaria uma ruptura com o modelo moderno – de Ciência, arte, cultura, sociedade, política e Filosofia – que vinha sendo construído pelo projeto iluminista moderno de civilização.

Os métodos da ciência física

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Um registro histórico

Nos anos 30 do século xx, as chamadas radiotelefônicas da América para a Europa apresentavam muito ruído. Karl Jansky. Um engenheiro de New Jersey, Estado Unidos, foi incumbido de descobrir a fonte desses problemas.
Ele construiu um sistema de antenas e montou-o sobre o chassi de um automóvel antigo, de modo que a Atena pudesse se deslocar em uma trajetória circular. Descobriu, então, que a maior parte desse ruído era causada por tempestades próximas e por outros distúrbios elétricos atmosféricos mais afastados. Entretanto, mesmo depois de essas fontes terem sido encontradas e saneadas, um ruído de fundo persistia durante as transmissões.
Após gravar o ruído por um longo período de tempo, Jansky percebeu que ele apresentavam uma certa regularidade: era mais acentuado à mesma hora todos os dias. Além disso, observou que a fonte desse ruído de fundo movimenta-se atravessando o céu de leste para oeste, o que o levou a acreditar que ela se situava fora da terra. Em outras palavras, a terra estava recebendo ondas de rádio transmitidas do espaço. Qual seria sua origem?

O método científico

Cientista é a pessoa interessada em fazer determinadas perguntas e obter as respostas a elas de maneira organizada.
O trabalho científico pode ser dividido em duas áreas: ciência pura e ciência aplicada, esta última também chamada de tecnologia.
A ciência pura envolve o questionamento e a busca de respostas para obter novos conhecimentos. Um cientista que se dedique às ciências puras pode fazer perguntas como: “que partículas constituem a matéria?” ou “Do que é feito o universo?
As ciências aplicadas usam conhecimentos básicos para resolver problemas práticos. Por exemplo, um cientista que se dedique às ciências aplicadas pode trabalhar na busca de um novo medicamento ou de um novo material resistente ao calor.
Muitas vazes é difícil separar a ciência pura da ciência aplicada. O engenheiro Karl Jansky estava trabalhando em um problema pratico, mas acabou descobrindo novas características das ondas de radio.
Como um cientista resolve problemas cientificamente? Ele se utiliza de uma serie de habilidades, realizadas em etapas, denominada método cientifico, que permite, a partir de certos passos, resolver um problema de maneira ordenada. Mas nem todos os cientistas seguem os mesmos passos e na mesma ordem.
Podemos tomar como um exemplo de método cientifico aquele utilizado por Jansky. Seu primeiro passo foi identificar o problema e estabelecer de maneira clara uma pergunta:
“Qual é a fonte do ruído que ocorre nas chamadas telefônicas para a Europa?”
Em seguida, faz observações. Uma observação é qualquer informação que chega até nos através de nossos sentidos. Tudo o que podemos ver, ouvir, sentir, tocar ou cheirar é uma observação. Os cientistas fazem observações cuidadosas, pois querem conhecer o máximo possível sobre o problema em que estão trabalhando. Karl Jansky usou o seu senso de audição. Mas, como ele não poderia usar seus ouvidos para captar diretamente esses ruídos, construiu um sistema de antenas.
Os instrumentos científicos permitem fazer observações mais precisas do que as obtidas pelos nossos sentidos. Podem incluir desde computadores, telescópios, microscópios, lasers, termômetros e balanças, até uma simples régua. O terceiro passo de Jansky foi formular uma hipótese, ou seja, uma possível e razoável explicação para aquilo que foi observado. Inicialmente ele acreditava que o ruído era causado por distúrbios elétricos organizados por tempestades.
Como os cientistas determinam se suas hipóteses estão corretas? Eles realizam experimentos para testá-las. Os registros de Jansky mostravam que a quantidade de ruído aumentava significativamente durante as tempestades. Isso lhe mostrou que sua hipótese aparentemente estava correta. Entretanto, depois de outro experimento com tempo bom, ele continuou a ouvir ruído, o que não podia ser aplicado por sua primeira hipótese.
Isso muitas vezes acontece em experimentos científicos: as informações obtidas podem contradizer a hipótese inicialmente testada. Torna-se, então, necessário descartá-la ou modificá-la para poder explicar as novas informações obtidas.
Jansky precisou olhar mais longe para descobrir a fonte desse ruído. Seus registros mostravam um padrão no ruído residual, que, de início, sugeria que ele tinha origem solar. Assim como o sol, o ruído movimentava-se de leste para oeste todos os dias. Após fazer mais observações, ele finalmente concluiu que a fonte daquele ruído eram estrelas no centro de nossa galáxia, a Via Láctea.
Karl Jansky foi o primeiro cientista a observar ondas de radio originadas de corpos celestes. Seus experimentos foram divulgados em jornais científicos e outros pesquisadores puderam aprender mais sobre essa descoberta. Um campo de pesquisa integralmente novo desenvolveu-se a partir dela a Radioastronomia.

A reforma

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Os antecedentes da Reforma protestante, que quebraria a hegemonia da Igreja Católica, encontravam-se, no século XIV, presentes no teólogo, professor da Universidade de Oxford e primeiro tradutor da Bíblia para o inglês John Wyklif. Ele se pôs contra o papado e pregou a necessidade da leitura direta da Bíblia e a separação entre Igreja e Estado. Wyklif inspirou ainda outro reformador, o tcheco Jan Huss, reitor da Universidade de Praga, condenado a fogueira pelo Concílio de Constança em 1415.
No mesmo rumo de Wyklif e Huss, Martinho Lutero, na Alemanha do século XVI, condenou os abusos da autoridade papal e reivindicou a livre interpretação da Bíblia, a liberdade da fé e a autonomia do poder estatal em relação a autoridade religiosa. Mas, ao contrário de seus predecessores, Lutero conseguiu o apoio dos príncipes alemães e a quebra da unidade católica do Ocidente ao propor a liberdade religiosa. Outro reformador, João Calvino, um francês radicado na Suíça, seguiu-lhe os passos, apesar de haver divergências nas propostas de ambos.
Os protestantes, entretanto, não exerceram a tolerância que reivindicavam para si, pois dissidentes do protestantismo eram igualmente eliminados como heréticos. Um exemplo foram as perseguições aos anabatistas. Outro exemplo foram os hussitas, continuadores de Jan Huss, que foram rejeitados tanto por católicos como por protestantes. O reformador João Calvino agiu de forma tão inquisitorial quanto os inquisidores católicos, mandando queimar vivo o médico espanhol Miguel Serveto (que descobriu como funcionava a circulação sanguínea), por considerá-lo herético, uma vez que ele não aceitava o dogma da Trindade. A liberdade religiosa anunciada pela Reforma nasceu semeada de intolerância e foi preciso alguns séculos para que o clamor de espíritos mais liberais aplacasse o sangue das guerras e diminuísse o número de fogueiras.
A partir da Reforma, deflagrou-se uma reação, denominada Contra-Reforma. Tratava-se de um programa da Igreja Católica de reforma interna, de reconquista de adeptos e de combate as divergências. Assim, justamente no Renascimento e no século XVII – marcado pelo racionalismo e pelo avanço das ciências – a intolerância e a violência foram maiores do que durante o período medieval. Enquanto Abelardo, Roger Bacon e Ockham haviam sido perseguidos e aprisionados temporariamente, Giordano Bruno foi morto na fogueira em 1600 e Galileu foi obrigado a abjurar por ordem da Igreja Católica. Kepler foi perseguido por protestantes e católicos.
Na Contra-Reforma, surgiu a Companhia de Jesus, que foi o braço de ferro da Igreja Católica para a reconquista de adeptos perdidos e a conquista de novos fiéis no Oriente e nas Américas. Nos séculos XVI e XVII, houve também um recrudescimento da Inquisição, sobretudo na Espanha e em Portugal. A colonização da América Latina foi um projeto ancorado no programa da Contra-Reforma. O Brasil foi conquistado dentro desse espírito de sujeição monárquica e de doutrinação jesuítica, sem reflexo dos avanços que a modernidade vinha propondo.
Observa-se assim que, se por um lado os espíritos se arejavam e novos horizontes e abriam na cultura, por outro o fanatismo, a violência e o obscurantismo demoraram a se desfazer.
Uma das heranças positivas deflagradas pela Reforma foi a preocupação com a educação. Pela necessidade de instruir o povo para a leitura da Bíblia, o próprio Lutero propôs a criação de escolas pelos príncipes, a obrigatoriedade da educação para as classes populares e o uso de métodos lúdicos para as crianças terem prazer em aprender. A Reforma teve uma marca profunda na área da educação, o que se comprova pelo fato de os grandes educadores que fizeram as revoluções pedagógicas dos séculos XVII, XVIII e XIX terem nascido em países protestantes – entre eles, destacam-se Comenius, Rousseau e Pestalozzi, respectivamente.
Os jesuítas também se empenharam em aberturas de colégios e em um amplo processo de educação, do qual no Brasil, durante os duzentos primeiros anos de colonização, foram os únicos promotores. Em que pese o caráter catequético de sua pedagogia, ainda assim deram uma contribuição a expansão cultural.

O homem como centro

Posted by Hijikata Toshizou on 07:03 with No comments


As divisões históricas são sempre problemáticas, sobretudo no campo das idéias, pois elas sofrem um processo contínuo de transformação que não se encaixa em períodos estanques. A transição do pensamento da Idade Média para a Idade Moderna apresenta-se, assim, como uma longa maturação: iniciada no próprio período medieval, nos séculos XIII e XIV, passou por um período de mudanças rápidas, o Renascimento, e se firmou como Filosofia moderna no século XVII. Os últimos escolásticos, como Roger Bacon e Guilherme Ockham – dois franciscanos ingleses – já anunciavam uma atitude moderna, de não sujeição a fé, de busca independente da verdade e de valorização da experiência e da razão.
As condições sociais, econômicas e culturais começaram justamente a se modificar no século XIII, que é considerado pelos historiadores como um período de gestação do Renascimento, processo iniciado na Itália. Marco Polo, um veneziano que chegou a China no século XIII, simbolizou o início de uma nova época para a consciência européia: o homem ocidental começava a sair de suas raízes feudais, da servidão da terra, para expandir-se pelos mares em busca de novos mercados, encontrando outras culturas. As Cruzadas, guerras religiosas desse período que levaram os europeus ao Oriente Médio e ao norte da África, também foram importantes nesse contexto. Esse processo de saída dos limites ocidentais se estendeu pelos séculos seguintes, tendo como momentos culminantes a descoberta da América e a expansão marítima européia pelo Oriente e pelo Ocidente nos séculos XVI e XVII.
Com a gradual decadência do modelo feudal, os centros urbanos renasceram na Europa e, com eles, surgiu a nova classe dos burgueses (de início, referencia aos habitantes dos burgos). A vida estática da servidão dos campos, regida pelas regras da Igreja, foi se modificando a favor de novas mentalidades. Nesse contexto, muitas das principais cidades européias passaram a contar com universidades influentes: Paris, Oxford, Cambridge, Bolonha, Salamanca, Praga e Heidelberg, entre outras. Esses centros de efervescência intelectual estavam a serviço da escolástica e sob o domínio da Igreja. No entanto, constituíram-se como focos de debates que favoreceram o amadurecimento do pensamento, de modo que entre os próprios escolásticos havia sementes do espírito moderno.
A transição para a Filosofia moderna – cuja raiz está presente no fim da Idade Média e cuja proposta perdurou até o século XX – ocorreu no período do Renascimento. A Renascença se iniciou na Itália, durante o século XIV (o chamado trecento), e ocorreu porque nas terras italianas o feudalismo sempre foi pouco enraizado. Além disso, havia um permanente contato da Itália com o Império Bizantino e com o Oriente Médio, por meio do comércio veneziano e genovês. A Renascença se estendeu ainda pelos séculos XV e XVI, coincidindo com outro fenômeno radicalmente transformador, que foi a Reforma.
No Renascimento, algumas tendências filosóficas se destacaram:
·         Humanismo – A consciência filosófica, cultural, estética e política voltou-se para o ser humano, perdendo o enfoque teocentrista. O pensar se horizontalizou, olhando a terra e diminuindo sua velocidade teológica. O ser humano passou a ser valorizado como senhor da natureza, como ser pensante e brilhante, artista e autor das coisas da terra. Os próprios prazeres terrenos perderam o excessivo peso do pecado imposto pela Igreja. Mas o ser humano permaneceu exaltado como criatura divina, como filho privilegiado do Criador. O humanismo renascentista não foi um humanismo ateu em seus principais autores, entre os quais se destacam Pico della Mirandola, Erasmo de Rotterdam e Thomas More.
Humanismo – O humanismo foi um movimento filosófico do início do Renascimento, que mudou o enfoque escolástico – portanto teocêntrico – da Filosofia, para exaltar o valor e a dignidade do ser humano, que foi visto pelos pensadores humanistas como senhor da criação e detentor de potencialidades e direitos. Hoje em dia, chama-se de humanista qualquer corrente que veja no ser humano o fim e o sentido de todas as coisas.
·         Naturalismo – Começou-se a buscar explicações naturais para os fenômenos da vida, da natureza e do Universo, assistindo-se ao nascimento da Ciência. O Universo passou a ser entendido como ordem matemática, que pode ser interpretada pela razão humana, servindo-se de instrumentos de observação e mensuração. Os grandes astrônomos – como Nicolau Copérnico, Galileu Galilei, Johannes Kepler e Giordano Bruno – fizeram nascer a ciência da observação e da interpretação da natureza, como a descoberta de leis matemáticas. Um conceito novo revolucionou a cosmologia: o conceito de infinito.
·         A volta as fontes greco-romanas – A Idade Média, no seu combate contra o paganismo no intuito de cristianizar a civilização, havia reprimido todas as heranças da Antiguidade clássica. Essa repressão foi feita a ferro e fogo tanto contra os remanescentes das tradições pagãs como contra as divergências dentro do próprio cristianismo, no combate aos hereges. A Academia Platônica, por exemplo, que havia sido fundada em 387 a.C., foi fechada em 529 d.C. pelo Imperador Justiniano, juntamente com o Liceu de Aristóteles, fundado em 335 a.C. Os renascentistas, por sua vez, voltaram-se para a arte, para a literatura e para a Filosofia da Antiguidade, fazendo traduções, buscando inspirações e se reapropriando de idéias e propostas antigas. A obra de Platão, por exemplo, que era quase desconhecida para os medievais, foi lançada em 1400 em Veneza e influenciou fortemente os astrônomos, especialmente pela sua valorização da Matemática.